Testemunho: Afinal tinha um nome

Foi a 22 de setembro de 2008 que ao fim de anos e anos de queixas e mais queixas, crises disto e daquilo, de médicos e de hospitais etc. e etc. e etc., de pensar que era mais fraca e sem força de vontade e preguiçosa etc., porque todos os dias ouvia tantas queixas de outras pessoas… mas elas conseguiam fazer coisas e recuperar rápido e eu não…

Foi neste dia que ao fim de talvez quase 20 anos soube finalmente que tenho um problema técnico que complica todo o meu corpo e que tem um nome: Lúpus Eritematoso Sistémico (LES).

Quando entrei para a consulta da especialidade (medicina interna) a médica julgou que eu já sabia dos pormenores técnicos, porque tinha sido encaminhada para ela por um excelente médico de medicina familiar, que ao fim de tanto tempo “me acompanhar” em exames, especialistas, etc., suspeitou que algo não estava bem, e montou o puzzle.

Não, eu não sabia.

Na consulta, mais ou menos um mês antes, com esse médico brilhante, experiente e muitíssimo “humano” (como costumamos dizer) apenas me informou que eu tinha reumático (ao q eu pensei e até achei graça, por associarmos a velhice) e que a partir daquele momento eu teria de poupar créditos, como se os meus dias e a minha vida se tratassem de um jogo. Teria de poupar créditos! Créditos para o futuro!!!

Então fui de férias viver a vida, como o médico mandou, porque eu sou muito bem-mandada.

No dia 22 de Setembro, eu, acompanhada do meu enorme pilar e tudo e tudo e mais tudo e tão valiosa MÃE, fui então à consulta da especialidade, como comecei esta “novela”, e a médica, pensando que eu já sabia ao que ia, começou a falar do “bicho”… Eu não estava a entender… Então saiu o diagnóstico: tem LÚPUS!

Nesse momento os sentimentos e tudo o que possam imaginar (se conseguirem, se não conseguirem, esqueçam o que leram até aqui e vão continuar a viver as vossas vidas!) foram avassaladores! Senti o chão desaparecer… mas afinal tinha um nome e não era psicológico!

Olhámos uma pra outra, as lágrimas corriam e dissemos uma pra outra: ohhh não 😢 mais um doente crónico num agregado tão pequeno! Porquê? Mas porquê? Não era preciso tanto… E nesse dia pra desanuviar fomos ver o filme “Mamma Mia”… Fazer o quê? Chorámos e rimos que é assim que vamos fazendo…

Tem sido uma constante adaptação a mim própria e aceitação das minhas limitações, uma constante luta comigo e com o “próximo”, um caminho muitas vezes solitário (quase sempre!), em que muitas vezes ao fundo está tudo muito escuro e não há luz… Muitos sonhos têm ficado pelo caminho, tem sido inevitável… Não se pode ter, e muito menos fazer, tudo!!!

…mas desistir de mim, e dos meus e para com os meus, nunca!

Existem dias terríveis em que é preciso colocar uma máscara e fingir que está tudo bem, dias em que levantar de manhã é pior que chegar ao Evereste (nunca lá fui, mas deve ser do género…), mas… Siga, sempre com os meus! São os meus que me dão forças pra não baixar a guarda e não parar de ter esperança, e é por eles que tanto pesquiso, tanto vou aos médicos, faço os exames, tomo o que tenho de tomar, que sou obrigada a faltar ao trabalho e obrigada a parar quando tenho de parar, de modo a nunca “partir a corda” (ou mesmo andar lá perto, embora aconteça demasiadas vezes…), e é por eles que tenho que fazer por mim, cuidar de mim e olhar por mim e pôr-me em primeiro lugar perante muitas coisas na vida.

É por eles, porque eles sou eu! E eu sou eles!
Acreditar!
Desapegar e ficar com o essencial!!!
Muitos foram, muitos ficaram, mas pouco e muito poucos, alguns novos vieram!
E é mesmo assim a vida!
Feita de aprendizagens e adaptações!
Muitas vezes, tipo filme, ao acordar, ainda penso que tudo isto não passou d’uma espécie de pesadelo… Mas não, esta é a minha realidade! Faz parte de mim, não posso ignorar, mas não posso deixar que se transforme no meu EU!

Porque eu sou muito, mas muito, mas mesmo, mesmo muito mais que isto tudo, embora com tudo isto…
Obrigada a quem ficou e nunca desistiu de mim!
Obrigada Pai, obrigada Mãe e obrigada Mano! Sem vocês… Nem sei…
Aproveitem a vida e cada momento de saúde que têm, porque um dia o levantar da cama, ou pegar numa vassoura pode ser quase como subir o Evereste (ou mais ou menos isso…)!

Nota: também acumulo fibromialgia! Acumulo ou andam de “mãos dadas”!

Mónica Ramos